quinta-feira, 25 de abril de 2013

(Um) 25 de Abril!!!

Maiza Trigo


Não é o meu primeiro 25 de abril em Portugal... Mas esse tem um sentimento distinto, um valor diferente. Passei de um estado quase letárgico para um de alerta! A ignorância ainda permeia a história de todos nós e o que podemos fazer? Eu, já há muito, decidi combatê-la com leituras e, especialmente, com relatos dos que viveram o que somente ouvi falar ou li...

Neste momento de crise, Portugal volta à "Grândola, Vila Morena" para protestar contra as medidas políticas adotadas pelo governo e as imposições da tão famosa e temida Troika. Seria um momento em que uma flor e uma música poderiam retornar como símbolos de uma revolução aqui? Somente sei que não há previsões otimistas "reais" e os cortes continuam...

Tendo nascido e crescido no Brasil, sei que, atualmente, a grande massa não fala em crise nem em revolução. O maior medo é a "crise" (d)esportiva, referente à Copa e às Olimpíadas. Mas, em 16 de abril de 1984, quase 10 anos após a Revolução dos Cravos, em Portugal, São Paulo foi centro da maior manifestação pública na história do Brasil, em prol das Diretas Já, com o objetivo de dar fim ao Regime Militar. Parece-me que o sentimento de luta, mesmo com uma década de separação, emergiu de um povo com vontade e com uma produção sem precedentes.

Ah, o 25 de abril de hoje chega com um tom quase verde-amarelo... Nesta semana, estive a ler um texto que uma colega brasileira escreveu e, dele, surgiu uma discussão política do que não vivemos nem cá, nem no Brasil. (In)Felizmente, nascemos após as revoluções que nada prometeram e deixaram um legado inigualável.

A Era dos Festivais, tão bem relatada ou "parabolizada" por Zuza Homem, é uma prova do nosso legado brasileiro. E, então, não poderia deixar de perguntar: a que música podemos relacionar à "Grândola, Vila Morena"? Recebi respostas desde "Apesar de você" a "Cálice"... Apesar disso não ter espaço para discussão na escola, eis a minha opinião:


Grândola, vila morena
Terra de fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
(...)
Grândola, Vila Morena
Zeca Cardoso

(...)
Vem vamos embora
que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
(…)
Para Não Dizer que Não Falei das Flores
Geraldo Vandré

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Educação no verbo entravar

Danieli Tavares

No início do século XX, H. G. Wells afirmou que “a história da humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a educação e a catástrofe”. Em 2012, o pesquisador David Albury, da GELP (Global Education Leaders Program) afirmou que “o Mundo levará décadas para implantar ensino do século 21”. Essas afirmações, publicadas respectivamente nos excertos de Moacir Gadotti (2000) e no Terra Educação em 25/09/2012, revelam-nos as crises dos modelos de ensino e a necessidade de mudança. E quando falamos em mudança, pensamos em teorias de aprendizagem, avaliação de currículo, autonomia escolar e outras discussões que, para já, não pretendo abordar. Mas, chama-me atenção a questão da inovação tecnológica.

As vias parecem intransitáveis quando pensamos, por exemplo, na questão da dependência. Uma analogia simples e aparentemente surreal (e ilógica), diz respeito ao desenvolvimento das novas tecnologias nas sociedades e a (não) utilização dessas tecnologias nas instituições de ensino. Percebemos, claramente, que as sociedades estão cada vez mais dependentes dessas transformações, enquanto que as instituições de ensino - há exceções, mas vou falar aqui do panorama geral - parecem não saber como acompanhar essa tendência tecnológica e se esbarram na comunicação com os alunos.

Parece simples pensar na relação entre Inovação e Educação. No entanto, a Educação, em teoria, está visceralmente comprometida com o conhecimento e ideias, de tal modo que tem demonstrado, durante décadas, resistência para experimentar novas tecnologias e novos conceitos baseados nas ciências. Já não se sabe se a Educação faz parte da ‘corrida’ mencionada por Wells ou se mantém com ‘pernas atrofiadas’ num tempo de crise de concepções e paradigmas, época em que o imaginário parece ter um peso maior. Evito pensar que a Educação (formal e não-formal) possa fazer-se a própria catástrofe do século XXI...

Nas conversas e controvérsias do nosso tempo, não podemos perspectivar o futuro da educação. Não, sem certa dose de cautela. No entanto, a “maldição da tradição do conhecimento” e a crise de paradigmas não podem figurar a justificativa para o imobilismo.

Só espero que, enquanto haja ‘corrida’, haja ideias em movimento.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Há tanto que já (não) me impressiona!

Rooney Figueiredo

Talvez, por tanto conviver com seu passado, o jovem português já não se impressione mais e deixe aos visitantes o deleite, o deslumbramento, a oportunidade de impressionar-se. Talvez seja irônico afirmar que a cegueira voluntária seja uma consequência do ver demais. Inflaciona-se o olhar e se empobrece a memória. Mas também é sabido que este fenômeno não é Português, nem tão pouco contemporâneo. Estamos a falar de algo antigo, somente ajustado às ferramentas de nosso tempo como os sentimento “internáutico” de aldeia global onde “sou de todos os lugares” e, ao mesmo tempo, “de nenhum lugar”.

É interessante notar que o visitante estrangeiro em Portugal se impressiona facilmente com a beleza dos azulejos portugueses, a talha, a arquitetura dos paços e as fortificações que se estendem por todo o território. Está aqui, em terras lusitanas, um patrimônio de valor singular que pode transportar o turista a uma cidade medieval portuguesa, a uma Portugal romântica, histórica e poderosa. Respira-se tanta história em tantos lugares desta terra, a exemplo das pedras que vemos nas paredes da Sé Velha de Coimbra, que contam-nos histórias de mouros e cristãos, reis e rainhas, aias e cortesãos e, quase, podemos ouvi-las.

Então me pergunto se o desprendimento, por vezes até desleixado, revela um sentimento de não "pertença". Se não me sinto parte desta história e não me encanto com ela, perco um pouco da minha identidade, um pouco de minha identificação com este passado. Não me identifico porque já não me impressiona, não me deleita, não deslumbra ou não me impressiona. Torno-me um cego voluntário, cidadão de uma aldeia global e sem identidade.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Aprender ciência e não só


António Gomes Ferreira
Cada vez mais se vem insistindo na relevância da educação formal atender aos supremos interesse da ciência. Mas este apelo a uma instrução meramente instrumental não é nova, colocou-se ao longo da história da escola, apenas reequaciona a questão dos conteúdos. Por outro lado, é preciso questionarmos se a educação formal não se deve importar com o modo como olhamos e utilizamos a ciência, se isso não é tão culturalmente relevante e não tem consequências para a qualidade de vida das pessoas. Educação é sempre resultado duma relação e esta é sempre dependente de condições históricas e culturais. A definição do conteúdo, o interesse do objeto, a circunscrição do científico, ao contrário do tantas vezes se diz, não dependem apenas da primordial qualidade da parcela de matéria. Nenhuma substância é só por si interessante para a ciência e a cultura. Quem confere importância é o homem ou a mulher no modo de olhar, analisar e compreender qualquer matéria ou dimensão da realidade. Mas estes não o fazem isolados, individualmente, antes agem a partir das relações que desenvolvem com as condições materiais e da capacidade técnica que está disponível. Mas, mesmo assim, a capacidade de delimitarem a relevância da ciência a ensinar não está ao alcance de todos os homens e de todas as mulheres. Ignorar quanto este exercício está dependente de forças dominantes que estão fundamentalmente preocupadas com a reprodução da sua lógica de poder, é ingénuo e impede de equacionar a capacidade de transformação da educação. Não se nega a importância da apropriação do conhecimento rigoroso e consolidado, nem a conveniência de se organizar um sistema educativo estruturado tendo em vista a melhoria tecnológica e o bem-estar das pessoas. Todavia, é preciso tomar consciência de que há mais saber relevante para além do necessário domínio da técnica, da aplicação instrumental do rigor. Ganharemos mesmo mais eficiência se soubermos promover uma educação que olha criticamente para o conhecimento científico, que se atreva a fazer pensar sobre o uso da ciência, sobre o sentido do progresso, sobre o que deve ser o humano, sobre as consequências do que fazemos e devíamos fazer, do que devíamos ser.