Rooney Figueiredo
Talvez, por tanto conviver com seu passado, o jovem português já não se impressione mais e deixe aos visitantes o deleite, o deslumbramento, a oportunidade de impressionar-se. Talvez seja irônico afirmar que a cegueira voluntária seja uma consequência do ver demais. Inflaciona-se o olhar e se empobrece a memória. Mas também é sabido que este fenômeno não é Português, nem tão pouco contemporâneo. Estamos a falar de algo antigo, somente ajustado às ferramentas de nosso tempo como os sentimento “internáutico” de aldeia global onde “sou de todos os lugares” e, ao mesmo tempo, “de nenhum lugar”.
É interessante notar que o visitante estrangeiro em Portugal se impressiona facilmente com a beleza dos azulejos portugueses, a talha, a arquitetura dos paços e as fortificações que se estendem por todo o território. Está aqui, em terras lusitanas, um patrimônio de valor singular que pode transportar o turista a uma cidade medieval portuguesa, a uma Portugal romântica, histórica e poderosa. Respira-se tanta história em tantos lugares desta terra, a exemplo das pedras que vemos nas paredes da Sé Velha de Coimbra, que contam-nos histórias de mouros e cristãos, reis e rainhas, aias e cortesãos e, quase, podemos ouvi-las.
Então me pergunto se o desprendimento, por vezes até desleixado, revela um sentimento de não "pertença". Se não me sinto parte desta história e não me encanto com ela, perco um pouco da minha identidade, um pouco de minha identificação com este passado. Não me identifico porque já não me impressiona, não me deleita, não deslumbra ou não me impressiona. Torno-me um cego voluntário, cidadão de uma aldeia global e sem identidade.
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