Danieli Tavares
O ensino da leitura literária e
a formação de leitores na escola portuguesa no 1.º ciclo do ensino básico ainda
divergem-se do ideal. Alguns exemplos de medidas ministeriais referentes à implementação
da entrada do livro de literatura infantil na escola compõem: a) a Rede de
Bibliotecas Escolares (RBE), criada pelo Despacho Conjunto n.º 43/ME/MC/95, de
29 de dezembro, cujo objetivo consistia na instalação de bibliotecas escolares
nas escolas de todos os níveis de ensino; b) a legislação que regulamenta a
figura do professor bibliotecário (Portaria n.º 756/2009 de 14 de julho), posto
que Portarias posteriores (n.º 558/2010, de 22 de julho, n.º 76/2011, de 15 de
fevereiro) induziram limitações às funções do professor-bibliotecário; c) o programa
Plano Nacional de Leitura (PNL), lançado em 2006 e que simbolizou um novo
impulso à leitura; d) o Programa Nacional de Ensino do Português (PNEP), criado
pelo Despacho n.º 546/2007, de 11 de janeiro, que, em período posterior teve
continuidade através do Despacho n.º 29.398/2008, de 14 de novembro no âmago da
melhoria dos níveis de desempenho dos alunos do 1.º ciclo do ensino básico em
relação às competências oral e escrita, em língua portuguesa.
Não descartamos a ideia de que
os programas viabilizam o alcance dos livros na biblioteca escolar pelas
crianças do 1º ciclo. A questão que se coloca é se as instruções dos documentos
para os professores em relação à leitura na sala de aula correspondem ao
objeto estético ao mesmo tempo em que mantém o seu aspecto social ou, mantém-se
compartimentada nos processos armadilhados de leitura, assumindo utilidade eminentemente
pedagógica no âmbito escolar.
Embora os dispositivos legais destaquem o
‘ensino de leitura literária’ com ênfase à oralidade, expressão e compreensão, reclamam
uma prática pedagógica nos “descaminhos” do instituído. A literatura para
infância ausenta-se de estimular a consciência crítica dos alunos do 1º ciclo
(e não só) e incorporar valores reformulados em meio aos fios plurais que tecem
a relação literário-pedagógico nas atividades de leitura em sala (e fora dela).
Afinal, a literatura para crianças não é um simulacro do livro didático. É,
para além disso, uma multiplicidade de sentidos.
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