quinta-feira, 11 de julho de 2013

Não é boa política educativa voltar ao passado


António Gomes Ferreira

A educação presta-se a muita retórica de café. Quase todos, muitos dos quais com responsabilidades políticas ou com fácil acesso à comunicação social, opinam com desenvoltura sobre o caminho que o sistema escolar deve seguir sem o conhecer verdadeiramente e sem reflectirem a partir de estudo devidamente fundamentado sobre as condições socioculturais das populações e a adequação das medidas apontadas. Quase sempre partem de uma ou outra ideia vinda dos países europeus mais desenvolvidos como se nela residisse a evidência do sucesso económico, confundindo causas com efeitos, ignorando políticas e práticas muito diferenciadas existentes entre esses países. É assim que se dá a ideia de soluções fáceis, como tudo se resolvesse por importação, como se não existissem condições históricas, económicas, sociais, culturais, administrativas que têm de ser atendidas. Neste momento, estamos diante de um período especialmente preocupante. Parece que os bons exemplos vêm do passado. Daquele passado em que poucos eram chamados e que disponibilizava uma cultura rotineira, repetitiva, reprodutora, autoritária, impedindo que o país tivesse recursos humanos devidamente qualificados. Esta tendência fortemente conservadora, pode até ter pessoas bem-intencionadas que querem reagir a certa permissividade, que, por vezes, prejudica quem deseja uma melhor educação, uma educação onde o conhecimento não seja desvalorizado. Todavia, esta preocupação não pode cair na tentação fácil de recuperar formas pedagógicas que só podem corresponder a políticas sectárias, que tendem a afastar crianças social e culturalmente desfavorecidas, condenando-as por pecado que não cometeram. Voltar ao passado, é fazer uma política reaccionária, porque assume a fatalidade da desigualdade e tal pressuposto não pode ser aceite por quem deseje uma sociedade mais coesa, equilibrada, justa ou tão só mais desenvolvida.

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