A educação presta-se
a muita retórica de café. Quase todos, muitos dos quais com
responsabilidades políticas ou com fácil acesso à comunicação
social, opinam com desenvoltura sobre o caminho que o sistema escolar
deve seguir sem o conhecer verdadeiramente e sem reflectirem a partir
de estudo devidamente fundamentado sobre as condições
socioculturais das populações e a adequação das medidas
apontadas. Quase sempre partem de uma ou outra ideia vinda dos países
europeus mais desenvolvidos como se nela residisse a evidência do
sucesso económico, confundindo causas com efeitos, ignorando
políticas e práticas muito diferenciadas existentes entre esses
países. É assim que se dá a ideia de soluções fáceis, como tudo
se resolvesse por importação, como se não existissem condições
históricas, económicas, sociais, culturais, administrativas que têm
de ser atendidas. Neste momento, estamos diante de um período
especialmente preocupante. Parece que os bons exemplos vêm do
passado. Daquele passado em que poucos eram chamados e que
disponibilizava uma cultura rotineira, repetitiva, reprodutora,
autoritária, impedindo que o país tivesse recursos humanos
devidamente qualificados. Esta tendência fortemente conservadora,
pode até ter pessoas bem-intencionadas que querem reagir a certa
permissividade, que, por vezes, prejudica quem deseja uma melhor
educação, uma educação onde o conhecimento não seja
desvalorizado. Todavia, esta preocupação não pode cair na tentação
fácil de recuperar formas pedagógicas que só podem corresponder a
políticas sectárias, que tendem a afastar crianças social e
culturalmente desfavorecidas, condenando-as por pecado que não
cometeram. Voltar ao passado, é fazer uma política reaccionária,
porque assume a fatalidade da desigualdade e tal pressuposto não
pode ser aceite por quem deseje uma sociedade mais coesa,
equilibrada, justa ou tão só mais desenvolvida.
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