quinta-feira, 25 de julho de 2013

A importância das relações na educação pré-escolar - Parte II

Inês Abreu Rodrigues

A aprendizagem cooperativa baseia-se, pois, no trabalho e na participação de todas as crianças para a consecução de uma tarefa comum, exigindo a negociação e a divisão de tarefas e papéis para que todas as crianças sejam participantes ativos. Deste modo, Furman e Gavin (1989, citados por Spodek, 2002) realçam o valor da aprendizagem como um meio de promover relações positivas entre os pares.

Este tipo de aprendizagem “permite às crianças adquirir e desenvolver, simultaneamente, competências cognitivas e sociais” (Lopes e Silva, 2008, p.6) e, sob o ponto de vista de Vygotsky (1991, citado por Lopes e Silva, 2008), este tipo de trabalho permite, simultaneamente, que a criança aceda a níveis superiores de pensamento, com a cooperação ou em contacto com os colegas mais desenvolvidos, funcionando estes como andaimes do desenvolvimento da criança.

Hohmann e Weikart (2011) mencionam que “as relações sociais que as crianças pequenas estabelecem com os companheiros são profundamente importantes, porque é a partir destas relações que as crianças de idade pré-escolar geram a sua compreensão do mundo social” (p.574). Como tal, as relações que a criança prova desde cedo moldam a visão que a criança irá formar de si e dos outros. Deste modo, através de relações saudáveis fornece-se um bom desenvolvimento emocional, o que representa uma base para a aprendizagem ao nível da linguagem, da resolução de problemas e da autoestima (Spodek, 2002).

Compreendendo e tomando consciência da importância das relações e do desenvolvimento emocional pode considerar-se que a aprendizagem tem uma base emocional uma vez que como assinalam Ratner e Stettner (1991, citados por Spodek, 2002), a separação entre o pensamento e os sentimentos distorce o entendimento de ambos os processos porque como Vygotsky (1993, citado por Arantes, 2003) destacou,

Quem separa desde o começo o pensamento do afecto fecha para sempre a possibilidade de explicar as causas do pensamento, porque uma análise determinista pressupõe descobrir seus motivos, as necessidades e interesses, os impulsos e tendências que regem o movimento do pensamento em um outro sentido. De igual modo, quem separa o pensamento do afecto, nega de antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afectivo, volitivo da vida psíquica” (p.18).

Resumidamente e atendendo à importância dos estudos já realizados é importante que educadores de infância e, até mesmo professores dos vários ciclos de ensino, compreendam uma “nova” forma de ensinar. Esta deve ter uma boa base emocional na medida em que se forem estabelecidas relações seguras e estáveis que transmitam conforto e confiança, as crianças sentir-se-ão mais livres e à-vontade para explorar, para experimentar o que as rodeia, tornando-se igualmente mais recetivas e motivadas para a realização de vários tipos de atividade que, por sua vez, facilitam o seu desenvolvimento cognitivo (Hohmann e Weikart, 2011). Será a meu ver, através de práticas pedagógicas centradas no papel das relações que se poderá contribuir para o “desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário” (ME, 1997, p. 15).

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